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ERA SÓ ISSO O QUE ELE QUERIA...


O agricultor Jô Formigon é o tipo de homem que não tem medo de pegar no batente, ao contrário de alguns conhecidos seus. Ele é o tipo do trabalhador “pau para toda obra”, apesar de ser visto por muitos moradores de sua comunidade como um sujeito sovina, por excelência.
Quem passa pelas cercanias da zona rural da comunidade Cafundós de Judas é possível vê-lo no fundo do quintal de sua casa carpindo um pequeno terreno ali existente. Naquele pedacinho de terra ele mantém já há bastante tempo um pomar e uma pequena horta dos quais tira parte do sustento de sua família.
Apesar de ser um trabalhador genuinamente rural, ele diz que nunca trabalhou com registro em carteira de trabalho. De vez em quando faz uns “bicos”, engrossando, assim, a fila dos inúmeros trabalhadores da economia informal deste país.
Nas suas poucas horas de lazer e de conversa fiada junto com os amigos, ele enche o peito de orgulho e diz que, apesar das dificuldades enfrentadas, sua vida de homem do campo tem sido cheia de altos e baixos desde que se entende por gente.
Nos últimos tempos ele tem andado meio preocupado e tem feito de tudo para manter as aparências, sobretudo para não passar a impressão de um pai de família displicente para com o bem-estar de sua prole. Aos olhos das pessoas que pouco lhe conhecem ele é visto como um pai de família desnaturado, mas ele afirma que tem se cuidado bastante para melhorar seu desempenho.
Por ser uma dessas pessoas que compartilham com seus amigos e conhecidos as agruras e as alegrias do seu dia-a-dia, alguém já andou comentando noutras rodas de amigos que sua situação financeira não tem sido das melhores nos últimos tempos.
Diferentemente do seu jeito apático de encarar a vida, a esposa dele é uma dessas pessoas que não se curvam diante da primeira dificuldade que surge à sua frente. Recentemente, ela passou a trabalhar em definitivo na economia informal e praticamente assumiu todas as despesas da casa.
Algumas pessoas acham que foi a partir da assunção dessa atitude corajosa e extremamente necessária para a manutenção das despesas da família, que a vida conjugal desse casal está deixando de se ser aquele angu de caroço de outrora.
No entender desse agricultor que, por vezes, se diz desencantado com a falta de sorte e de oportunidade na vida, a situação que ele está vivendo é muito corriqueira no dia-a-dia dos casais de baixa renda do mundo de hoje.
Disse, ainda, que se sente chateado por ter de conviver com esse grupo de pessoas que, de forma taxativa, vive colocando o moral de alguns pais de família numa verdadeira berlinda.
Ademais, esse grupo entende que todo pai de família que se preza tem a obrigação de assumir a direção e a responsabilidade da casa de forma plena, custe o que custar, e quando isso não acontece da forma que é planejado, a vida desse casal tende a se transformar naquele angu de caroço de sempre.
Encerra seu desabafo dizendo que não se considera um pai de família irresponsável, apenas gostaria de ter uma oportunidade de trabalho remunerado, com carteira assinada e tudo mais que a lei puder lhe proporcionar... E se isso realmente acontecesse, decerto, sua vida melhoraria e ele poderia dar uma qualidade de vida menos conturbada para a sua família.
Era só isso o que ele queria...
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 29/12/2009
Alterado em 04/02/2023

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