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IMPRESSÕES NATURALMENTE CONJUGAIS


É um tema discutível, mas é possível que o tempo de vida útil, recheado de charme, dedicado a um relacionamento a dois, sempre tenda a variar de pessoa para pessoa, pouco importando a idade dos consortes. Em alguns momentos ele se assemelha à conservação de um jardim repleto de flores que, por mais belo que ele possa parecer, carece ser regado diuturnamente para continuar ativo.

Indubitavelmente, essa prática salutar não acontece com freqüência entre a maioria dos casais e essa falta de “manutenção” entre eles, geralmente tem feito com que aquele relacionamento prometido anteriormente na intenção de durar uma vida inteira vá definhando com o passar dos tempos.

Essas impressões que acontecem naturalmente em todas as partes do mundo, também vêm acontecendo com certa freqüência envolvendo uma boa parte dos casais de Cafundós de Judas. Coincidências ou não, mas o que se passa nos dias de hoje com a vida conjugal de Jô Formigão não tem sido muito diferente...

Comenta-se, a bocas miúdas, que nos últimos tempos sua companheira de longa data tem se queixado para o grupo de amigas casadas de sua comunidade a respeito de uma eventual falta de atenção dele para com ela, de uns tempos para cá.

Tentando justificar o real motivo dessa desconfiança no tocante à mudança de comportamento do companheiro dela, ocorrida de forma natural, com o passar dos tempos, ela relata alguns episódios ocorridos durante o namoro, noivado e pós-casamento, os quais são dignos de uma análise mais acurada.

Naquele tempo – ela relembra com muita saudade – o dia-a-dia de nossa vida a dois era bem mais intenso que hoje. Ele era um verdadeiro mar de rosas... O Jô me tratava de forma diferenciada, via beleza em tudo o que me dizia respeito e de vez em quando comentava:

- Querida, esse sinalzinho que você tem no canto inferior esquerdo do seu queixo tende a lhe transformar na mulher mais sensual deste mundo. Conserve-o da forma que está. Eu adoro vê-lo e apreciar a beleza e a sensualidade que ele irradia.

Segundo ela, essa impressão inusitada, advinda de um amor à primeira vista, perdurou por algum tempo e tal qual ocorre com a beleza de um encanto surgido num conto de fadas, esse encanto real também teve o seu tempo de duração.

Mais tarde, com o advento da rotina natural do casal e a chegada dos filhos, os quais deram origem ao surgimento de uma fadiga constante e a aparição de um cansaço diário por conta do trabalho doméstico, aquela beleza inicial deve ter perdido um pouco daquele encanto de outrora.

Nos dias de hoje – prossegue –, as coisas mudaram um pouco. Na verdade, eu não gostaria que fosse assim, mas nas horas de rara descontração ele tem dito, em tom de brincadeira, algo parecido com o que ele dizia antes, a exemplo do comentário a seguir:

- Querida, eu não sei se você já notou, mas essa marca que há no canto esquerdo do seu queixo está crescendo demasiadamente e, a meu ver, ela está mudando de forma cada dia que passa.

Ela teme que, com o passar dos anos, aquelas primeiras impressões que o Jô Formigão teve acerca de sua beleza interior também acabem mudando de figura.

Receia, por fim, que a qualquer momento ele vá sugerir a retirada daquele “sinalzinho” que outrora representava um pouco da candura de um amor que tinha tudo para durar a vida inteira no mesmo compasso dos anos iniciais, mas que infelizmente tem sido solapado de forma sutil pela ação implacável do tempo.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 04/02/2010
Alterado em 05/06/2016

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