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POLÍTICA E HUMANAMENTE CORRETOS
 
 
Dois políticos de partidos diferentes, mas que faziam parte da mesma coligação, acabavam de chegar do enterro de outro político de um partido da oposição e, antes de pegar o táxi que lhes levaria de volta para o hotel onde estavam hospedados, pararam em um bar para tomar um drinque.

Enquanto degustavam os goles do uísque da cortesia da casa, um deles se pôs a pensar, fazendo questão de expor para seu colega o que se passava pela sua cabeça naquele momento:

- Veja bem, nobre colega, a vida de todo ser humano é igual a um candeeiro a querosene aceso e exposto ao relento. Se o vento soprar um pouco mais forte, a luz que ele irradia acabará por se apagar mais depressa e o dono dele deixará de aproveitar sua utilidade de forma plena.

Meio alheio à mensagem passada por aquela reflexão feita pelo seu colega, o outro tomou mais um gole da bebida, olhou para os lados, sentiu que não havia nenhum correligionário seu ali presente e fez um comentário irônico:

- Nobre colega, esse seu candeeiro a querosene é realmente muito fraco. Se pelo menos ele fosse a gás ou a diesel, nós poderíamos distribui-los, em breve, para nossos virtuais eleitores. Além do mais, o nobre parlamentar como grande conhecedor da fragilidade desse seu mini lampião, não tinha nada que deixá-lo exposto ao vento - caçoou.

Mais tarde, após ingerir mais alguns goles de sua bebida preferida, ele caiu em si, refletiu um pouco e disse que estava muito agradecido à sua divindade de fé por ter lhe ajudado a se manter vivo e atuante até aquela data.

Disse, ainda, que fez de tudo para suportar, sem reclamar, a leitura daquele longo discurso feito em homenagem póstuma àquele seu desafeto político que acabara de ser enterrado e em seguida se retratou:

- Meu eminente colega, peço-lhe desculpas, por só agora eu ter entendido direito a sua mensagem. A vida terrena é mesmo muito curta. Se não atentarmos com carinho para os detalhes mais sutis que envolvem o desenrolar dela, outras pessoas, que não têm nada a ver com isso, acabarão por ofuscar a escrita da nossa história.

O outro, um pouco mais sóbrio que o primeiro relevou o pedido de desculpas do seu colega de partido, tomou mais um gole e disparou:

- Concordo plenamente com sua colocação, mas já pensou se nesses longos anos de efetivo exercício de vida pública precisássemos “alumiar” os detalhes obscuros de nossas inúmeras promessas de campanha não cumpridas, com certeza iríamos precisar de muitos candeeiros. –  Se entreolharam e, sem nenhuma parcimônia,  gargalharam discretamente.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 01/12/2010
Alterado em 10/05/2020

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