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PRECAUÇÃO NECESSÁRIA

Uma assistente social estava visitando os habitantes de uma região do polígono da seca, para terminar um estudo a pedido do governo federal, com o intuito de melhorar a qualidade de vida das pessoas daquela região.

Fazia parte da sua meta de trabalho visitar pessoas residentes nas regiões ribeirinhas e ela iniciou seu trabalho visitando uma família cujo dono da casa era um camponês e se chamava João dos Santos. Ele tinha mais de 70 anos de idade e possuía uma prole formada por diversos filhos.

Ao adentrar no casebre onde ele morava a assistente social pôde observar que a situação socioeconômica daquela família era bem precária, capaz de causar pena a qualquer capitalista por mais ortodoxo que ele fosse, mas esse não era o "x" da questão. O que ela necessitava mesmo era fazer um censo das reais condições de vida daquela gente do campo e ponto final. E sem muita delonga ela deu início à sua pesquisa, fazendo-lhe a primeira pergunta:

- Quantos filhos o senhor tem? – perguntou.

O camponês, apesar de se sentir meio acanhado com a aparição daquela visita meio inesperada, respondeu:

- Eu tenho 16 com a minha primeira mulher, 14 com a segunda e mais 10 com esta que estou vivendo agora.

A assistente social comentou que estava muito surpresa com o número de filhos que ele tinha e fez mais uma pergunta, dando seqüência à sua pesquisa.

- Todos os seus filhos freqüentaram uma sala de aula regularmente?

Aquele trabalhador, que era mais um dos milhares de milhares deste país que não tiveram a oportunidade de receber a instrução escolar referente à formação das primeiras séries do ensino fundamental, disse para aquela senhora:

- Moça, eu não entendi a sua pergunta. A senhora poderia falar de um jeito que eu pudesse lhe entender direito?

A assistente que era uma pessoa dotada de uma educação refinada, pediu desculpas para ele pela maneira como havia se expressado e logo procurou refazer sua pergunta:

- Os seus filhos sabem ler e escrever? Eles já estiveram numa escola onde pudessem ler livros de ciências, geografia, matemática, história, meio ambiente etc.?

- Não moça, aqui ninguém fez nada disso não. Aqui é só trabalho de sol a sol e nada mais. O resto a gente vai aprendendo com o passar dos tempos.

Enquanto ele conversava com a assistente social sentado numa rede meio rasgada, igual àquela calça que ele usava, parte dos órgãos genitais dele ficava meio pendurada, um pouco à mostra... Um dos filhos do entrevistado se aproximou dele e sussurou:

- Papai, se ajeite aí na rede, uma parte dos seus testículos está à mostra e a moça da cidade pode estar vendo o que não deveria...

O velho entendeu o recado do filho e logo procurou se recompor. Até disfarçou um pouco de modo que a moça não entendesse o que o garoto estava falando, mais foi um esforço em vão. Ela tinha ouvido tudo direitinho. E tanto ouviu que em seguida fez o seguinte comentário, seguido de uma pergunta:

- Senhor, eu não entendi bem a sua resposta quando me disse que nenhum dos seus filhos estudou numa escola. Agora mesmo eu ouvi um deles pedindo ao senhor p’ra se cuidar, pois os seus testículos estavam à mostra... Se ele não tivesse ido à escola ou lido livros que tratam desse assunto com certeza ele não usaria essa palavra ao se referir aos seus órgãos genitais. Como o senhor me explica isso?

O camponês, sem demonstrar nenhum constrangimento, esboçou um sorriso meio maroto e respondeu:

- A senhora acha que eu sou bobo. Se eu tivesse ensinado p’ra meus filhos que isso que eu carrego no meio das pernas tem o nome de "ovo" ou de outra coisa parecida, na hora que eu me descuidasse, eles meteriam a faca e cortariam tudo p’ra fritar e, com certeza, comeriam com mandioca cozida...
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 17/06/2007
Alterado em 12/01/2008

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