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O DILEMA DAS FRUTAS

A convivência familiar entre as diversas frutas que ocupam a área útil do pomar do Seu Nicanor, um agricultor que fora assentado nas terras de uma das regiões ribeirinhas deste país, anda de vento em popa. Todas as frutas ali existentes vivem na mais perfeita harmonia. Na seara desse reino vegetal particular nenhuma delas se importa com o que a outra faz e nem se imagina tendo o seu nome envolvido e/ou subutilizado para justificar más qualidades, peripécias, atitudes ilícitas, perspicácias e as ações e/ou omissões próprias dos integrantes do reino animal, sobretudo dos humanos. Elas vivem à vontade no mesmo reino vegetal e por serem espécies distintas, acabam formando uma grande e animada família, a saber: abacaxi, banana, caju, goiaba, laranja, limão, manga, maracujá e a melancia.

Mas o viver de uma fruta no âmbito do reino animal não é de todo fácil. A maioria delas alega que além de ser comida e/ou chupada por uma boa parte dos animais, de acordo com a preferência de cada um deles, é evidente, o nome de algumas delas poderá ser interpretado de forma equivocada e até vilipendiados por alguns humanos, quando esses humanos deveriam se preocupar com outras coisas, senão vejamos:

O abacaxi, por exemplo, tem-se sentido muito triste e chateado, uma vez que os humanos em geral o confundem com tudo o que é indesejável, inútil, perigoso, prejudicial, etc. e por causa disso ele já pensou até em mudar de nome. Afirmam as más línguas que ele já procurou a Sociedade Protetora das Frutas Vilipendiadas e pediu que ela protocolasse a sua petição na justiça. Sabe-se, a priori, que como medida paliativa a justiça natural sugeriu ao requerente que nesses momentos em que os humanos tentarem utilizar o seu nome para ilustrar e/ou justificar suas falhas e eventuais imperfeições profissionais e artísticas, ele esconda a sua identidade por trás do seu outro nome, o ananás. 

Quanto à banana, ela tem andado até meio depressiva e com certa razão, pois alguns humanos além de utilizarem o nome dela para designar o estado apático de determinada pessoa, tachando-a de mole, sem energia ou vontade própria, por vezes, eles insinuam a nudez dela com um simples gesto de antebraço, sempre na intenção de afrontar o outro humano.

O caju não tem muito do que se queixar. Às vezes ele fica chateado apenas com a atitude avarenta e impensada de alguns agricultores que em períodos de fartura, eles preferem a castanha à sua polpa, esquecendo o quanto delicioso e nutritivo é o suco extraído dela.

A goiaba, esta sim, tem andado meio chateada com alguns humanos que andam fazendo mau uso do seu nome. Ela está até decidida a procurar a Sociedade Protetora das Frutas Vilipendiadas visando a impetração de uma ação de reparação de danos morais contra esses humanos. O real motivo dessa sua pretensão tem sido a utilização do nome dela por parte de alguns humanos brincalhões para designar atitudes de outros humanos que vendem uma aparência de engraçados e/ou espertalhões mas não o são na sua plenitude.

No tocante à laranja, a sua sorte não tem sido das melhores. Nos últimos tempos, sem nenhuma consulta prévia, os humanos decidiram alterar o seu sexo, masculinizando-a; assim, ao designarem os indivíduos que fazem papel de intermediários, especialmente no mercado financeiro, quando da participação de transações em nome de um terceiro, cuja identidade fica oculta, geralmente na realização de atos e atitudes escusas, chamam-nos de “laranjas”. O mais grave de tudo isso é que esses indivíduos, uma vez apanhados nessa condição de “intermediários”, têm seus verdadeiros nomes expostos na mídia em geral, mas sempre seguido do pré nome “o laranja” fulano de tal, beltrano e sicrano... O verdadeiro nome do responsável pela ação ou atitude indevida nunca aparece.

Já o fruto cítrico do limoeiro, popularmente conhecido como limão, apesar de ser muito querido nos meios sociais, principalmente nos da periferia, não admite ser tratado como elemento acessório nas receitas de cozinhas e de balcões de botecos. Ele se queixa que quando a dona de casa vai preparar um prato, cujo produto principal é o peixe ou a carne, a primeira coisa que ela diz, é: corta o limão, espreme o limão, passa o limão... No boteco, não é diferente. Quando alguém pensa em “fazer” um churrasco, logo vem a preparação da bebida principal que é a caipirinha, mas caipirinha sem limão não existe. Também, quando alguém é acometido de uma forte gripe, ou é “apanhado de calças curtas” por um resfriado, aconselha-se a tomar um chá de limão; o comprimido poderá ser qualquer um desses recomendados pelo seu farmacêutico de confiança e/ou pelos demais médicos de clínica geral. Mas não fica por aí. O pior de tudo isso é quando alguém é apanhado com a aparência de sisudo ou de mau-humor, a pergunta que é feita para essa pessoa é a seguinte: Que cara é essa, você chupou limão? O limão não agüenta mais ser tratado dessa maneira...

A manga, apesar de emprestar seu nome para designar aquela parte do vestuário onde o humano enfia o braço, ela não aceita ter seu nome vilipendiado à toa, como naquela expressão em que algumas pessoas ao perceberem que determinado indivíduo tem uma aparência estranha e/ou não muito agradável, costumam dizer: “... parece o cão ou o diabo chupando manga.”

A queixa protocolada pelo maracujá é inédita e segundo a Sociedade Protetora das Frutas Vilipendiadas, ela não tem razão de ser. Ele simplesmente alega que detesta ser lembrado pelas pessoas que fazem alusão à aparência de outras pessoas não muito bonitas, dizendo: “parece um maracujá de gaveta...” Na verdade, a sua vontade seria ser lembrado numa mesa de frutas de uma quitanda ou numa fruteira doméstica.

Das frutas acima mencionadas, a melancia foi a única que não teve nada a se queixar, muito pelo contrário, ela prefere falar de suas propriedades medicinais, a ficar se preocupando com o que os humanos tem a falar dela. 

Dentre as suas utilidades nutritivas, ela alega que é uma fruta cujo suco das sementes é considerado vermífugo e diurético leve e que o restante das suas demais partes serve para a cura da erizipela, febre e infecções de vias urinárias; suas sementes torradas, quando aplicadas sobre feridas, diminuem a dor. O chá de suas sementes é considerado vasodilatador, prestando contribuição destacada no combate à impotência sexual e hipertensão arterial. O suco extraído dela é recomendado para quem tem pressão alta, reumatismo ou gota. Ele provoca a eliminação de ácido úrico, além de limpar o estômago e intestino. 

A melancia, realmente, não tinha nada a declarar contra os humanos na Sociedade Protetora das Frutas Vilipendiadas até o momento em que apareceu alguém com metade de uma delas pendurada no pescoço sob o pretexto de querer aparecer na mídia... 

O dia da melancia é comemorado no dia 26 de novembro de cada ano.. Nesse dia, algumas pessoas saem às ruas com capacetes feitos com a casca dessa fruta para promover a sua imagem. É a melhor maneira de aparecer e de se destacar e há até quem ache que a melancia deveria ser escolhida para ser o símbolo divulgador do nosso país.

Na condição de leitor e provável defensor dessas frutas indefesas, o que você faria de hoje em diante para não ver os nomes delas vilipendiados?
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 10/08/2007
Alterado em 05/08/2016

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