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DE PAPO PARA O AR...

 

Quase todo mundo, em algum momento de sua vida fica, por alguns instantes de seu tempo ocioso, de papo para o ar, organizando seus pensamentos ou pensando bobagens, isto é fato; com certeza, fica.

O camponês Zé Velho tem sido uma dessas pessoas que costumeiramente tem sido visto de papo para o ar, literalmente, protegido pela sombra de uma das mangueiras frondosas de seu pomar, principalmente quando a árvore está sem mangas maduras ou naquele estado entre o verde e o maduro, é claro, disputando seu espaço em meio às formigas e minhocas ali existentes.

Dizem as más línguas que ele usa parte desse tempo vago para meditar um pouco e, assim, ganhar um pouco de energia para cuidar de sua vida e lida no campo, mormente quando ele percebe que a morte está recém-parida e/ou de papo para o ar, tal qual ele tem ficado, no seu dia a dia.

Ele alega que tem feito isso com frequência porque sabe que de tempos em tempos a morte fica prenhe,  para tempos depois dar à luz a seus rebentos que, decerto, mais tarde a auxiliarão na sua ingrata, mas infalível missão de cuidar do descanso eterno dos seres vivos e animados existentes na face do planeta Terra, já que não se tem conhecimento da existência de vidas e nem de sua atuação noutros planetas.

Muitas pessoas, mesmo aquelas extremamente atarefadas, que são fiéis cuidadoras de seus afazeres inadiáveis, deveriam tirar alguns minutos de sua vida para ficarem de papo para o ar, ainda que o fosse para refletir um pouco  sobre aquilo que tivesse de fazer segundos depois.

Zé Velho conta, com ar de rara felicidade, que muitas vezes consegue até pegar no sono e que chega a sonhar que se encontrava dormindo, mas em seguida acorda para a dura realidade da vida e acaba descobrindo que a morte não ficará de resguardo o tempo todo e  que logo estará em plena atividade.

Eu, particularmente falando, tenho conseguido viver momentos similares a esses vividos por esse camponês boa gente e, sempre que posso, também tenho ficado de papo para o ar, meditando um pouco e assim procuro carregar comigo a feliz missão de cuidar de minha vida e de meus entes queridos sem prejudicar o modo de ser e de viver de outrem em nenhuma hipótese.

O camponês Zé Velho assevera e também sabemos que a morte não fica de resguardo de seu parto, prematuro ou não, por muito tempo, porque se assim o fosse ela não teria tempo suficiente para cuidar de forma sorrateira e infalível da retirada de cena, assim como da consequente baixa de seu arquivo, no seu devido tempo, dos nomes de todas as pessoas que têm comportamentos e hábitos similares ou contrários aos deles.

Por fim, tais ações sistematicamente por ela praticadas, recairão sobre todos nós, os viventes deste mundo atribulado que ora o ocupamos, ainda que o seja de forma provisória e que, ironicamente, também o deixaremos de "papo para o ar" no dia de nossa despedida.

Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 09/05/2023

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