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ESTAVAM ALI, A SÓS E DE PASSAGEM
 
Uma voz sussurrada, que parecia vir do além, fez um pedido de modo tranquilo e sereno, para uma imagem que estava logo à sua frente:
- Por favor, permaneça na posição que você está e escute-me com bastante atenção, sem olhar para trás.
 A imagem sombria que estava ali à sua frente, demonstrando certo pavor, questionou
: - Por que não deverei olhar? Eu não estou portando dinheiro, nenhum objeto de valor, sequer um celular – justificou-se.
O ser da voz sussurrada, mantendo-se tranquilo, respondeu-lhe:
 - Acalme-se. Não é um roubo à mão armada, apenas lhe aconselho que não olhe para mim, até porque eu estou percebendo que você está chorando.
A figura que estava de costas, continuou na mesma posição, e dando a entender que estava se acalmando, achou por bem dizer-lhe que se sentia bem:
- É engano seu. Eu não estou chorando. Já faz muito tempo que eu não faço isso.
O ser da voz sussurrada, ora demonstrando um pouco de preocupação, fez nova pergunta para a silhueta que continuava de costas, à sua frente:
-  Por que você está com tanto medo de mim? Eis que o outro ser, demonstrando  certa calma, respondeu:
- Eu não estou com medo de você, porque quem morre de medo se enterra vivo, e não foi isso o que aconteceu comigo, antes de chegar aqui.
Àquela altura do desenrolar do diálogo entre ambos, o ser da voz sussurrada já deixava a transparecer estar bem mais sereno que antes e ao ouvir a resposta do outro ser, quis rir, mas decidiu fazer mais duas perguntas, sendo que já o fez em forma de ponderação:
  - Será que é isso mesmo? Mas o que é que você estava fazendo sozinho neste lugar?
Ainda sem olhar para a figura que tinha a voz sussurrada, o outro ser sombrio respondeu:
- Ainda não sei ao certo o que estou fazendo aqui, mas também é fato que não estou conseguindo encontrar meu caminho de volta. Isso é tudo o que tenho a lhe dizer.
Decorridos alguns centésimos de segundos, os dois seres decidiram-se olhar-se, simultaneamente, sendo que, naquele momento, passaram a impressão de que já se conheciam de outra dimensão e, em seguida, partiram para um diálogo mais amistoso e sem muitas perguntas entre eles.
- Levante-se um pouco daí, pare de ficar meio assustado; nós precisamos ir embora deste lugar - sugeriu o ser da voz sussurrada.
O outro ser que, realmente, parecia um pouco assustado,  voltou a questionar:
- Por qual motivo tenho que me levantar daqui? Afinal, para onde iremos? Ademais, o que você está fazendo aqui também?
Sem esperar as respostas que seriam dadas pelo ser da voz sussurrada, o outro ser, que naquele instante virara um questionador inveterado, tentou andar, com passadas largas, porém lentas, na direção contrária à que tentavam ir, eis que o ser da voz sussurrada o interpelou:
- Alto lá, meu camarada, volte aqui, por favor; eu preciso que você me faça companhia, sendo que, de pronto, o outro ser respondeu:
- Eu não posso ficar, sequer, um minuto com você. Sinto muito, mas eu preciso, de verdade, ir embora daqui, porque eu só estou de passagem – disse – sendo em seguida interpelado pelo ser da voz sussurrada que sugeriu:
- Não sei para onde você está indo, mas eu gostaria que você não tivesse medo de mim e ficasse um pouco comigo, já dando a entender que ali estaria pintando, no mínimo, um clima de reatamento de uma velha amizade existente entre ambos.
O ser que tencionava ir embora voltou e se dando conta de que, realmente, se tratava de uma figura de um velho relacionamento seu, de vidas passadas, disse:
- Como já lhe falei antes, eu não estou com medo de você,  mesmo porque você não mudou seu modo de agir e continua o mesmo ser de outrora; só não ficarei um pouco mais, porque estou com um pouco de pressa; por favor, saia um pouco de minha frente e deixe-me atravessar a faixa de pedestres logo, antes que este semáforo fique no vermelho; preciso ir logo,  pois eu não quero passar por tudo de novo. E sumiu para o nada, como se fosse uma alma penada.
O ser da voz sussurrada que tinha ficado aguardando uma nova etapa permissiva do semáforo para, em seguida, também cruzar a faixa de pedestres, murmurou com seus botões:
- Nem mesmo nesta dimensão extra sideral em que, casualmente, nos encontramos hoje, este ser consegue deixar de ser apressado. E, tal qual seu parceiro de conversa daquela dimensão extra sideral, também sumiu para outro nada, como se fosse outra alma penada.
Moral da história: respeitar as leis de trânsito, na sua plenitude, assim como o fizeram os personagens desta história que ora foi contada, denotam comportamentos ideais, sobretudo preventivos, próprios de pessoas educadas, mesmo que se trate de exemplos oriundos de almas penadas.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 08/05/2020
Alterado em 20/06/2020
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