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VIDA DE PROFESSOR (VI)
 
Numa daquelas cidadezinhas interioranas, em que o visitante ao avistar a placa de boas-vindas, antecedida por uma placa indicativa de redução de velocidade para 30km/h e, após manter essa média de velocidade por uns dois minutos já visualizará a placa de agradecimento e pedido de breve retorno ao visitante, uma professora do ensino fundamental I, lotada na única escola ali existente, estava encontrando dificuldade para conduzir sua classe formada, na sua maioria, por garotos arteiros.

Às vezes, em situações como essas, os conselhos oriundos de alguns professores para com esses alunos arteiros e desinteressados, soam como um vaticínio, sobretudo naquelas ocasiões em que esse profissional da educação tenta fazer o papel de psicólogo em sala de aula e/ou assumir o papel de pais extremamente preocupados com o futuro dos seus filhos.

- Joãozinho, se você não se dedicar aos seus estudos com afinco, você correrá o risco de, ao chegar ao final deste ano letivo, não passar de ano – disse a professora, preocupada com o desempenho pífio daquele aluno.

Joãozinho, arteiro e cômico de nascença que o era, se fez de desentendido e tentou enervar sua professora, retrucando-a por meio de uma pergunta um tanto quanto sarcástica:

- Professora, o que acontecerá comigo, então, se no final deste ano letivo eu não passar para o ano seguinte?

A professora sorriu com os lábios e dentes cerrados e para não dar asas para a imaginação brincalhona daquele seu aluno piadista, sem se dar conta do poder que tem cada palavra ou frase por nós proferida, vaticinou:

- Joãozinho, se isso realmente vier a acontecer, com certeza, você não estará mais aqui, entre nós, ano que vem...

Ela se referia, evidentemente, à consequente ausência dele na série seguinte, na companhia dela e dos demais alunos de sua classe, mas ele entendeu a resposta da professora como uma proposição premonitória agourenta da parte dela.

Subitamente, diante daquela situação previsivelmente logica em razão do seu fraco desempenho em sala de aula, àquela altura dos acontecimentos, ele ficou com o semblante meio carrancudo e a face enrubescida e, sem querer transformar sua resposta numa piada sem graça, como sempre o fizera em situações similares, confidenciou para os seus botões:

- Mesmo que eu não consiga passar neste final de ano letivo para a série seguinte, eu prometo para o Meu Deus e para mim mesmo que farei de tudo para chegar, ano que que vem, mais vivo do que nunca.

Em seguida, ele fez o sinal da cruz na intenção de tentar afastar qualquer tipo de predição agoureira no tocante à sua permanência futura na face da terra e, sem dar muita atenção para a sequência de suas aulas, cochichou ao ouvido do seu colega de classe mais próximo:

- Se nada melhorar para mim até o fim deste último semestre letivo, ano que vêm estarei matriculado numa escolinha de futebol infantil e, em estando lá, se depender apenas e tão somente do meu desempenho em campo, meu futuro estará garantido. – E esboçou um sorriso bem discreto, tentando disfarçar seu breve ar de vã expectativa.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 20/07/2020
Alterado em 20/07/2020
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