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16 - PRIMEIRO E ÚNICO PILEQUE
 
Billy Lupércio Daniel tinha apenas nove anos de idade e já experimentava o seu primeiro e único pileque, provocado que o fora pela ingestão, acima da medida, de alguns copos de vinho doce ou suave, por achar que estava bebendo algum tipo de suco diferente.

Aquele episódio envolvendo Billy como um sério candidato precoce a enófilo local acontecera no dia do casamento do seu tio, o quinto irmão de um grupo de seis, do qual sua mãe é o terceiro filho dessa família, na ordem crescente da fila.

Naquela tarde, quase noite, em meio àquela comemoração em família, do casamento do seu tio, Billy criança que o era, achou por bem  participar “ativamente” dos comes e bebes no meio da patota um pouco mais crescida, como se ele fosse gente grande também.

Como se tratava do casamento de um dos tios que até hoje ele o preza bastante, Billy comeu além do esperado e bebeu o que ele não esperava fazê-lo, nem da forma demasiada como o fez naquele dia.

O vinho que quase o tirou do sério era um doce ou suave, que é dotado de um sabor adocicado, nítido e intenso, e por ser a primeira vez que ele ingeria aquela bebida diferente, imaginou que tanto ele quanto as demais pessoas ali presentes estivessem bebendo um suco novo, com o sabor meio parecido com o de refrigerante.

Por estarmos falando dessa “bebida doce” que o garoto Billy confundiu com suco, oportuno se faz esclarecer que, de acordo com nossa legislação, os termos vinho doce ou suave fazem referência a uma mesma graduação de açúcar dos vinhos. Destarte, todo exemplar com mais de 25 g/L (vinte e cinco gramas por litro) de açúcar residual pode ser legalmente classificado como vinho doce ou suave. Porém, há quem use o termo suave para descrever um vinho que, ao paladar é macio e aveludado e, assim, causa confusão com a classificação legal.

Outrossim, de acordo com os apreciadores da arte da degustação de vinhos, o teor de açúcar não agrega maior ou menor qualidade ao vinho, serve apenas para marcar estilos e atender aos paladares que os desejem. 

Por não entender patavina da arte de degustar e/ou ingerir vinhos, nem naquela época da sua fase pueril, muito menos agora nessa fase da sua terceira idade, Billy lembra-se que mergulhou de corpo e alma na dosagem ingerida e acabou por experimentar uma tremenda dor de cabeça, literalmente falando.

Depois de se empanturrar de comida, de doces e de vinho doce ou suave, ele decidiu ir embora para sua casa que distava pouco menos de quinhentos metros do local onde a festa de casamento corria à solta.

Ao chegar à casa onde ele morava, já andando meio cambaleante, quis ficar esperando o início precoce da sua ressaca, sentado em um canto da casa, sem ser importunado por ninguém, mas não conseguiu.

Um dos seus cinco irmãos, ao lhe vir sentado, naquele estado quase ébrio, entendeu que deveria lhe fazer algumas perguntas a respeito do que se passava consigo e isso lhe causou certa irritação. O pai dele que também acabava de chegar do casamento, ao presenciar aquele burburinho mirim que acontecia entre ele e seu irmão, o ameaçou de dar-lhe uma surra por achar que ele estava bêbado.

Billy jura de pés juntos e mãos postas que bêbado, de verdade, ele não estava, mas sua cabeça não parava de rodar e aquela ameaça feita por seu pai serviu-lhe para fazer uma breve reflexão, naquele momento, acerca do ocorrido.

Coincidência ou não, mas é fato que a “surra” de aconselhamentos que seu pai lhe deu naquele dia, serviu-lhe como forma de tira-gostos ou petiscos de fim de festas e lhe tem feito recordar, constantemente, os goles de vinho que ingeriu de forma demasiada naquele casamento, cujo sabor não conseguiu discernir até hoje, se era de vinho doce ou suave, ou se era de suco misturado com vinho, porque nunca mais quis, sequer, experimentá-los.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 29/07/2020
Alterado em 29/09/2020
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