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24 - LIDANDO COM UM ANIMAL TRETEIRO
 

Na região nordeste do Brasil, sobretudo nos rincões onde Billy Lupércio Daniel nasceu, diz-se que um animal é velhaco, quando ele não se deixa prender ou ser conduzido com facilidade, mas dentre esses animais aparentemente velhacos, há aqueles que são treteiros, também.
Imagine-se estar diante de um animal cheio de artimanhas, trapaceiro e treteiro aos extremos; depois multiplique tudo isso por dois, e o produto obtido dessa operação chegaria perto de certas ações praticadas por um animal que Billy conheceu, que fazia parte do rebanho asinino que seu pai possuía, que atendia pelo nome de Permanente.
Os animais, de um modo geral, parecem entender perfeitamente os comandos do seu dono ou do seu domador. Quando se fala deste último, mormente, no que diz respeito à doma de animais xucros, Billy leva muito em conta o árduo trabalho que o domador dispensa no seu dia a dia, no intuito de deixar esses animais do seu jeito, fazendo os movimentos que ele “determina”, sem amedrontá-los, tampouco castiga-los, é claro.
Não obstante o significado do nome pelo qual era tratado o animal desta sua história infantil, esse animal não era tido como velhaco, no sentido de não se deixar prender ou ser conduzido com facilidade e sim por se tratar de um bicho manhoso e treteiro, por excelência.
O pai de Billy era um lenhador profissional que fornecia madeira já cortada em pequenas toras para ser usada em padarias, hotéis, lanchonetes e residências em geral. Naquela época, na década de 60, a cidade onde Billy nasceu era muito pequena e, naqueles anos do século XX, o progresso ainda não tinha chegado por lá.
A entrega das cargas de lenha era feita diariamente e era necessário ter os animais prontos, no período da manhã, desde muito cedo; ora para ir cortar a lenha no mato e trazê-la para casa, ora para fazer a entrega para sua clientela que necessitava de madeira seca para cozinhar seus alimentos, nas primeiras horas do dia. Ainda não havia fogão a gás naquela região e toda comida era preparada à base do calor produzido no fogão de lenha.

Voltando a falar do animal cujo nome era Permanente, Billy alega que ele não era um animal difícil de ser conduzido, tanto nos momentos em que ele estava com a carga, quanto quando estava sem ela. Contudo, de vez em quando, ele se comportava de um jeito “matreiro”, no que diz respeito às suas ações cheias de artimanhas. Na verdade, o animal chamado Permanente parecia certo humano treteiro, que uma vez ou outra, tentava ganhar na conversa as pessoas incautas que o conduziam.
Billy lembra-se muito bem que, às vezes, era comum ver esse animal deixar sua carga deslizar do seu dorso, por sobre a parte lateral de sua barriga; nesse ínterim, ele caminharia por alguns metros com ela, deitar-se-ia um pouco para ganhar tempo ou fôlego, até ser acudido pelo seu condutor.
Diversas vezes, em dias de muito mormaço e/ou de calor intenso, ele parava fora da trilha, esperava que os outros animais continuassem andando e somente a partir da passagem do último era que ele voltaria a caminhar. Era uma velha estratégia “animalesca” usada por ele, para descansar um pouco, sem ter de se desfazer, temporariamente, de sua carga.
Noutras ocasiões, quando o pai de Billy precisava juntar todos os animais disponíveis para colocar os arreios e demais apetrechos para serem usados no transporte de cargas, quando ele ia conferir se todos estavam a postos, o animal Permanente nem sempre se encontrava ali.
Como Billy já conhecia há já algum tempo as artimanhas desse animal treteiro, saberia onde encontrá-lo, sem dispor de muito trabalho e saía, calmamente, com um cabresto às mãos e conseguia apanhá-lo em algum ponto estratégico da propriedade do seu pai. Geralmente, esse animal estaria em locais onde ele pudesse ficar meio escondido, de espreita, achando que ninguém iria buscá-lo naquele momento.
Aquela velha máxima de que alguns animais, principalmente os cães e os gatos, refletem a personalidade de seus donos, não podia, de nenhum modo, ser aplicada ao comportamento malandro desse animal de carga que atendia pelo nome de Permanente. O dono desse animal sempre foi uma pessoa muito correta, que não se escondia de suas obrigações pessoais e nem da realização rotineira de suas tarefas de trabalho.
Esse animal denominado Permanente morreu de velho, mas enquanto viveu e reuniu forças para trabalhar, nunca deixou o seu modo “malandro e duradouro” de querer levar vantagem em tudo, estivesse ele com uma carga ou sem ela. Ele era, na acepção real da palavra, tudo aquilo que se poderia esperar de um animal treteiro.
 

Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 25/08/2020
Alterado em 06/05/2023
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